Quem cuida dos animais sem tutores?
Completando um ano de funcionamento, o VetMóvel, clínica veterinária móvel da Prefeitura de Fortaleza, já conseguiu realizar mais de 3000 castrações. A cidade, que sofre com um grande número de animais em situação de rua, possui 12% da sua população de cães e gatos vivendo nesse estado.
A condição de animais em situação de vulnerabilidade no país é preocupante, de acordo com o último censo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de 30 milhões de bichos abandonados. Na capital cearense, esses números também são expressivos: mais de 60 mil vivem nessa condição. Fortaleza, segundo o último censo do IBGE, possui aproximadamente 2.643.247 pessoas, comparado com os números de bichos abandonados, a cidade possui um animal de rua para cada 44 pessoas.
(Imagens: Atendimento Vetmovel Pirambu / Fotos: Renan Moreira)
No dia 20 de fevereiro deste ano, foi aprovada na Câmara Municipal de Fortaleza, um projeto de lei para a criação de um Centro de Acolhimento para animais em situação de vulnerabilidade. O projeto de autoria da vereadora do Partido Pátria Livre (PPL), Larissa Gaspar, vem como uma alternativa de política pública para diminuição de cães e gatos abandonados nas ruas da capital. A vereadora que também está entre os nomes a frente da criação da Coordenadoria Especial de Proteção e Bem-Estar Animal (Coepa), admite que as ações da prefeitura ainda são insuficientes para suprir a grande demanda existente.
“Apresentamos emendas no orçamento do município para que pudéssemos ter um VetMóvel por regional”
Larissa Gaspar sobre a ampliação de unidades móveis de atendimento veterinário
Segundo Toinha Rocha, coordenadora da Coepa, a Regional V de Fortaleza, região com o menor IDH da capital, é o local onde existe o maior número de animais abandonados na cidade. Devido a essa realidade, boa parte dos trabalhos realizados pelo VetMóvel são nessa faixa do município.
Toinha explica que a mentalidade dos tutores está mudando e isso é de suma importância para o trabalho do VetMóvel e das políticas de cuidado animal. “A população hoje está mudando sua conduta e mentalidade, assim percebendo a importância de buscar a castração do seus animais e realizando a vacinação desses. Acima de tudo, além da saúde animal temos a saúde humana também sendo preservada”, afirmou.
Um outro sistema para controle de animais abandonados muito conhecida pela população são os Centros de Zoonoses (CCZ), que talvez você não conheça por esse nome, mas deve lembrar das famosas carrocinhas. Atualmente, eles realizam um trabalho de recolhimento apenas de animais em estado de saúde terminal, ou quando há casos de denúncias de animais doentes, ou agressivos que possam estar prejudicando o bem-estar da população.
(Imagem: Fachada de sala - Centro de Zoonose / Fotos: Renan Moreira)
O diretor do CCZ em Fortaleza, Sérgio Franco, explica que há mais 13 anos não é registrado nenhum caso de raiva animal na cidade, esse número aumenta para 15, quando se refere há casos com humanos.
Atualmente, o principal problema, segundo Sérgio, são os casos de leishmaniose visceral que já chegaram a contabilizar mais de 200 animais atingidos, mas que hoje somam apenas 55, ou seja, uma diminuição de ao menos ¼ dos casos. O diretor do CCZ esclarece que o órgão ao longo dos anos limitou suas funções, e que ele se diz satisfeito, com sentimento de está cumprindo com êxito a sua função.
Vídeo: 5 Curiosidades sobre o Centro de Zoonoses
Para o protetor de animais, Erich Douglas, as ações populares, como criação de abrigos ou mesmo o trabalho de protetores independentes seriam menos necessários se o poder público fosse mais efetivo na solução da causa.
“Se o governo fosse presente na causa animal assim como ele tem feito uma propaganda enorme, esse fluxo de bichos nas ruas seria bem menor”
Erich contando do pouco conquistado pela causa durante esses anos
Erich admite que existem avanços nos últimos anos mas que esses ainda são insuficientes para resolver um problema que está crescendo cada dia mais. “Quando alguém chega até mim que eu recomendo procurar o vetmóvel, algumas dessas pessoas voltam dizendo que não conseguiram ser atendidas, e não puderam castrar seu animal”. O protetor acredita que as principais conquistas para a causa serão a criação de um hospital veterinário, e uma unidade de vetmóvel em cada regional, fato que segundo a vereadora Larissa já está em processo de tramitação.
Acompanhe nossa primeira reportagem da serie Caminhando entre Patas para Radio-Jornalismo, sobre as Políticas Públicas voltadas aos animais: